terça-feira, 18 de setembro de 2012

"A cultura interfere no Plano Biológico" e "Os indivíduos participam diferentemente de sua cultura"



A cultura interfere no Plano Biológico


Foi tua fé que te curou a tua cultura que te modificou?

A cultura é algo tão intrínseco ao ser humano que com ela pode-se decidir sobre aspectos da vida e mesmo da morte dos indivíduos. Que ela interfere em nossas opções, no modo de viver e nas decisões que tomamos fica claro; mas até que ponto ela pode invadir a seleção natural de um povo, com o poder de vida e morte nas mãos? Parece surreal e distante. Mas até o ato de deixar o mundo (e ir para onde a crença determina) é algo cultural. Logo, relativo por si só.
Ainda que pareça complexo pensar a respeito, sabe-se que a mudança é algo recorrente e inadiável, e quando acontece pode colocar em cheque toda a história de um povo. Foi assim com os judeus que inseridos num regime onde eram vistos como vermes,  foram dizimados. Índios foram obrigados a abrir mão de suas crenças devido ao etnocentrismo português. Jovens cooptados para integrar um renovado exército de homens-bomba. Africanos que ao serem arrancados de seu país perderam sua identidade e a vontade de viver, ficando como já dizia a canção:

“Com a boca escancarada cheia de dentes
Esperando a morte chegar...”
(Ouro de tolo- Raul Seixas)

            Vários outros grupos sociais foram pressionados a mudar seus hábitos, e por isso mesmo, passaram por crises gravíssimas, ou seja, por estarem inclusos no contexto histórico/ cultural de dado povo, teve seu plano biológico alterado.
                                           
       
Negros sendo explorados
Treinamento para jovem exército de homens-bomba
                                                       

           
Judeus num campo de concentração

                                 

Um exemplo onde fica claro que a cultura interfere no plano biológico é a história dos índios Kaapor (Grupo Tupi do Maranhão) que acreditavam que se alguém visse um fantasma, poderia morrer por conta disto. Em uma passagem, certa índia membro desta cultura, procurou homens brancos buscando “añan-puhan” (remédio para fantasma em português) e lhe foi dado um comprimido de vitaminas que deu muito certo com ela e com outros indivíduos que passaram pela mesma situação; acreditando ter tomado um remédio mágico não apresentou maiores complicações (cura para a doença psicossomática). Retomamos a pergunta inicial: Foi tua fé que te curou a tua cultura que te modificou?
Com isto podemos afirmar que é visível a atuação da cultura no plano biológico; coisas como “beber água depois de ter tomado café quente faz mal”, “é preciso tirar o veneno que tem na ponta do pepino”, são aspectos culturais que se as pessoas acreditam enfaticamente, certamente, sentirão alguma espécie de mal estar caso consumam; ainda que ao serem questionadas não tenham algum fundamento científico que comprove a crença.
A fome e os alimentos ingeridos também são fatores de cunho cultural. Para os brasileiros é comum um café com pão pela manhã; já para os japoneses no café da manhã a refeição, mais importante, é completíssima. Britânicos e indianos consomem chá, no entanto, diferentemente, os ingleses são pontuais no consumo, fazendo do chá uma leve refeição no fim da tarde enquanto indianos o tomam pela manhã e a noite e na maioria das vezes o chá é do tipo preto.

Chá

Café da manhã brasileiro
Café da manhã japonês
                 









                   
Os indivíduos participam diferentemente de sua cultura


É fato que cada indivíduo participa de modo diferente em sua cultura e que há certa limitação nesta participação, ocorrendo da cultura mais simples para a mais complexa. A faixa etária é um fator determinante para a participação de cada um na sociedade. Com isso temos duas linhas de análise possível, a primeira de ordem cronológica e a outra cultural. Uma criança de cinco anos de idade não pode atuar socialmente como um jovem de vinte e três, e um idoso de oitenta e quatro fatalmente apresenta outro contexto. Já a explicação de ordem cultural é diferente, embora se saiba que ninguém pode participar de sua cultura em todos os seus aspectos. Podemos apontar que há ausência de justificativas plausíveis para o limite entre as classes etárias. Por qual motivo um jovem de dezoito anos completos pode ser julgado por um crime e outro, dias mais novo, recebe tratamento diferenciado? O que, de fato, os torna diferentes? Qual seria a lógica para um jovem que, aos dezesseis anos pode votar, e com a mesma idade não pode ter uma carteira nacional de habilitação?
Não existe a possibilidade de um indivíduo dominar completamente aspectos de sua cultura: pelo contrário, ele pode permanecer ignorante diante de alguns deles; Laraia apropria-se do exemplo de Albert Einstein, que era um físico brilhante, mas um violinista medíocre e acrescenta que, provavelmente, seria um desastre enquanto pintor. Pensando nisto, cada um dá para a sociedade um tipo de contribuição, isso os torna distintos. Em contrapartida a cultura os torna semelhantes.
[...] O presidente  preside
o operário opera
o médico medica
o advogado advoga
o cobrador cobra
o procurador procura
o motorista motora 
o costureiro costura [...]

(Arnaldo Antunes - "O que swingnifica isso?")

Ainda que não domine por completo todos os elementos culturais do grupo ao qual está inserido, cabe ao indivíduo o mínimo de participação na pauta de conhecimento cultural para que seja possível a articulação/interação com os demais membros da sociedade. É preciso saber “prever” a maneira das pessoas agirem em determinadas situações. Para ilustrar imagine um grupo de amigos na praia: se um deles sugere que todos entrem na água espera-se que coloquem roupas específicas para tal feito (sungas e biquínis), o que seria surpreendente, ao menos para nós, brasileiros, seria todos entrarem na água com jeans, moletom e tênis. Como já diria o poeta "Ninguém é igual a ninguém. Todo ser humano é um estranho ímpar".
Sendo assim, temos padrões comportamentais, mas quebrá-los nem sempre causa falta de comunicação. Algumas vezes eles não são suficientes e acabam não dando conta de peculiares situações, daí nascendo os conflitos (de uma impossibilidade de controle por parte do conjunto de regras sociais). Um exemplo de socialização inadequada é o do norte americano Jim Jones (pastor que se intitulava Deus) e que após ser denunciado por ex-membros de sua seita e perseguido pelo exército americano encontrou uma drástica solução, incentivando os fiéis a tomarem suco de uvas com substâncias venenosas. Este episódio que ficou conhecido como “o massacre de Jonestown” matou mais de 900 pessoas por envenenamento, e o líder, Jim Jones, foi encontrado com um único tiro na cabeça.  



Triste cena do massacre de Jonestown


     Esse trágico exemplo ilustra o que pode ocorrer com um indivíduo que “desobedece” as regras de um grupo. Jim Jones fugiu do padrão americano, no qual estava inserido, e desta maneira, viveu em função de um poder sem escrúpulo ou limite. Podemos, novamente, afirmar que cada um vive diferentemente a cultura. Um professor de Língua Portuguesa entende de gramática, mas não sabe ao certo como fazer o cálculo de velocidade média; entretanto, ambos partilham dos mesmos componentes culturais e é isto que torna possível o convívio entre as pessoas.


"O que  põe o mundo em movimento é a interação das diferenças, suas atrações e repulsões;
a vida é pluralidade,  a morte é uniformidade."
(Octavio Paz) 

Escrito por:
Alex Ramalho, Bruno Carvalho, Daniel Resendes, Erick Henrique, Jéssica Veríssimo e Roberta  Florentino.

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